fonte imagem: Pixilart - Donald Trump Speech by gtarpey89/Montagem Pedro Zambarda/Drops
Por Sullivan Martinelli, Sullz Player, comunicador independente e YouTuber.
Em 2025, Donald Trump voltou à presidência dos Estados Unidos e, com ele, a guerra comercial foi retomada. No que batizou de “Dia da Libertação”, impôs tarifas de pelo menos 10% sobre todas as importações — podendo chegar a 145% em casos específicos — sob a justificativa de reorganizar a economia internacional para reverter o declínio dos EUA.
fonte imagem: Pixilart – Donald Trump Speech by gtarpey89/Montagem Pedro Zambarda/Drops
As taxas afetaram potências como China e Rússia, mas também lugares irrelevantes para o comércio global, como as Ilhas Heard e McDonald — onde só vivem pinguins e focas. O episódio rendeu o meme “tarifaço dos pinguins”, que viralizou na comunidade gamer e em fóruns de economia, servindo para mostrar o nível de paranoia que rege a nova política econômica estadunidense.
Nesse cenário, a indústria dos games virou dano colateral: consoles, acessórios e componentes essenciais sofreram aumentos brutais de custo, inflacionando preços e desorganizando cadeias de produção globais. Videogame não é arroz, nem vacina — a gente sabe. Mas também não é só passatempo. É indústria, cultura e conexão. Seu impacto é real, especialmente numa indústria cultural que movimenta bilhões, conecta gerações e influencia comportamentos no mundo todo.
Se a vida real fosse um videogame, Donald Trump seria o chefão da fase final. Aquele vilão caricato que aparece depois de horas de exploração, loot e diálogos tensos, com uma risadinha maligna, topete pixelado, um discurso inflamado sobre ameaças globais, planos “infalíveis” e um golpe especial devastador: o tarifaço. E quem paga o preço são as economias emergentes, os consumidores e, mais uma vez, os setores mais vulneráveis do planeta.
Por trás da caricatura do vilão, há a tentativa de conter o avanço da China, sabotar os BRICS e tentar recuperar a influência perdida dos EUA. O tarifaço é a versão moderna do neomercantilismo — uma tentativa de repatriar a indústria americana à força, minar os concorrentes e proteger setores estratégicos, como as big techs. Só que, no processo, Trump feriu os próprios pilares que sustentaram a hegemonia dos EUA: o multilateralismo e a globalização.
A taxação não é algo inédito na política de Trump. Em seu primeiro mandato, o republicano conseguiu algo sem precedentes: unir as rivais multimilionárias Microsoft, Sony e Nintendo, que — juntas — enviaram um alerta ao governo estadunidense:
Em tradução livre: “Economicamente, a indústria de videogames contribui substancialmente para a economia dos EUA, e seu crescimento ano a ano é impressionante. A indústria de videogames dos EUA gerou uma receita total de US$ 36 bilhões em 2017 e US$ 43,4 bilhões em 2018, refletindo um crescimento de mais de 20%. Essa indústria emprega direta e indiretamente mais de 220.000 pessoas. 99,7% das empresas de videogames se qualificam como pequenas empresas e estão presentes em todos os cinquenta estados. Muitas desenvolvem software para PCs, dispositivos móveis e consoles — e são parte integrante da economia de aplicativos.”
Assim como em 2019, as consequências do aumento de tarifas de importação afetam toda a cadeia de produção global e, por consequência, os preços. A lógica é simples: taxar importações significa repassar custos ao consumidor, inviabilizando o acesso a consoles como o PlayStation 5, o Xbox Series e o ainda inédito Switch 2.
Os efeitos do tarifaço já começaram a aparecer — e o Brasil é um dos primeiros a sentir. Com o início da pré-venda de Ghost of Yotei, os jogadores foram surpreendidos com um novo preço padrão para os lançamentos de PS5: R$ 399,90. Antes, títulos AAA da Sony chegavam por R$ 349,90 — como foi o caso de Marvel’s Spider-Man 2. Mesmo sem confirmação oficial de reajuste, o movimento indica um repasse de custos ao consumidor. Além disso, a assinatura da PS Plus também sofreu aumentos: o plano Deluxe anual, por exemplo, subiu para R$ 691,90 para novos assinantes.
No Brasil, isso se traduz em decisões difíceis: adiar a compra de jogos, abandonar serviços ou simplesmente desistir de acompanhar os lançamentos — não por falta de interesse, mas por falta de dinheiro.
Quando o jogo aperta, quem mais sofre são os pequenos estúdios. As grandes publishers têm estrutura para aguentar as instabilidades do mercado — já os indies enfrentam a crise de peito aberto. Se os custos de hardware disparam ou a distribuição internacional emperra, o impacto é direto: menos acesso, menos vendas, menos chances de continuar criando.
Quer lançar um jogo num console? Vai ter menos espaço de venda. Quer importar kits de desenvolvimento? Toma imposto. No fim das contas, quem segue no jogo são as corporações que conseguem tankar a taxação, repassando o prejuízo diretamente pra gente: os consumidores finais.
Mas a guerra comercial é apenas uma parte de um jogo muito maior: o do capitalismo neoliberal globalizado. A indústria dos games é só mais uma vítima colateral de um sistema imperialista que opera para concentrar poder e subjugar povos inteiros. Esse é o resultado de um modelo que beneficia quem joga o jogo com todos os cheat codes ativados.
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