De Rodrigo Domingues do grupo de pesquisas Gamegesis. Em um mundo marcado pela transformação tecnológica e pelas mudanças abruptas nos modelos de produção de conteúdo, manter uma iniciativa como a Gamegesis exige tanto paixão quanto planejamento estratégico.
Por isso, o hiato iniciado em 2022 — quando nosso fundador decidiu dedicar-se a projetos internacionais de Computação Gráfica — não foi uma simples pausa, mas sim um período vital de amadurecimento. Hoje, em maio de 2025, celebramos não apenas a retomada das publicações, mas sobretudo o amadurecimento de uma proposta editorial que se fortaleceu a partir das lições desse intervalo.
Desde os primeiros dias da Gamegesis, idealizada como um espaço para debatermos os jogos em todas as suas manifestações — de tabuleiro, digitais, físicos até RPGs e LARPs —, assumimos o compromisso de evidenciar a importância dos jogos como ferramenta de comunicação, aprendizado e convívio social.
Essa missão ganhou novas perspectivas quando, em meados de 2022, surgiu para nosso fundador a oportunidade de integrar uma equipe internacional de Computação Gráfica e desenvolvimento de games. O convite significava acesso a ferramentas inovadoras, pipelines de modelagem, animação e renderização de alto nível, campos que dialogavam diretamente com sua pesquisa de mestrado e seus interesses acadêmicos. Foi assim que a Gamegesis decidiu entrar em um hiato, com a convicção de que a experiência traria aprendizados essenciais para a consolidação do projeto.
“Quando recebi o convite para ingressar naquela grande empresa, fui invadido por um misto de entusiasmo e apreensão. A equipe de colaboradores do portal Gamegesis estava produzindo conteúdos que geravam reações positivas. Mas o projeto ainda não havia alcançado a viabilidade financeira. A área de Computação Gráfica, na qual investi anos de pesquisa e paixão acadêmica, exigia dedicação plena. A solução parecia inevitável: suspender, ainda que temporariamente, as atualizações da Gamegesis para organizar as finanças e planejar um retorno que respeitasse tanto as exigências do mercado quanto os valores de nosso trabalho.
Ao longo de um ano e meio no novo projeto, vivenciei desafios interessantes. Participar de processos de design de sistema integrado para produção de jogos, sistemas de design 3D colaborativo para Web, desenvolvimento de sistemas com ‘materiais baseados em Física’ e colaborar em equipes multinacionais colocou à prova não só minhas habilidades técnicas, mas também minha capacidade de liderança e comunicação em ambientes complexos. Embora enriquecedor, esse período chegou ao fim antes do esperado: a crise econômica global atingiu o setor de tecnologia e entretenimento, resultando na não-renovação de vários contratos, inclusive o meu. Foi sob esse cenário que decidi retomar o projeto Gamegesis, desta vez com a clareza de que seria preciso criar bases financeiras mais sólidas, diversificar fontes de receita e aprofundar o engajamento com nossa comunidade.”
O despertar para essa nova fase coincide com um momento histórico para o setor de jogos eletrônicos no Brasil. No dia 6 de maio de 2024, foi sancionado o Marco Legal dos Games, uma legislação pioneira que reconhece oficialmente o potencial cultural, social e econômico da indústria de games. Nas palavras de Márcio Filho, representante da ACJogos‑RJ na defesa do projeto de lei, “sair de ‘não somos reconhecidos’ para ter uma das leis mais avançadas do mundo no que diz respeito ao setor de jogos eletrônicos” era algo inimaginável para quem, poucos meses antes, percebia a ausência de qualquer suporte legislativo. Ao completarmos o primeiro ano dessa promulgação, revisitamos o texto publicado na Revista Fórum, que destaca não apenas as conquistas alcançadas, mas também os desafios e as perspectivas para consolidar o Brasil como referência global em produção de jogos. A leitura desse balanço reforça nosso compromisso de contribuir ativamente para o fortalecimento do ecossistema, seja por meio de pesquisas, debates ou iniciativas práticas.
Em paralelo às transformações legislativas, testemunhamos o avanço assustador da indústria de apostas online, que se apropria da terminologia e do apelo lúdico para mascarar a natureza predatória das atividades de apostas. Dados recentes do Banco Central do Brasil mostram que as perdas mensais com apostas rondam a impressionante cifra de R$ 30 bilhões, valor que ultrapassa o simples aspecto financeiro, pois reflete-se em famílias endividadas, ciclos de dependência e um impacto social profundamente negativo. Atualmente, cada dispositivo móvel é potencialmente uma pequena casa de apostas, com interfaces desenhadas para instigar o usuário sem pausas para reflexão.
Foi diante desse quadro que lançamos nossa campanha “Aposta não é Jogo”, cujo objetivo central é esclarecer ao público as diferenças de essência entre um hobby que promove habilidades, criatividade e sociabilidade, e uma prática destinada a extrair recursos do indivíduo sem gerar benefício real para a coletividade.
O retorno da Gamegesis não se limita ao restabelecimento do fluxo de publicações: ele representa um pacto com nossos leitores e colaboradoras para elevar o nível dos conteúdos, combinando rigor analítico com narrativas engajadoras. A principal mudança estrutural acontece na consolidação de nossas editorias em um formato mais dinâmico e integrado. O Gamegesis Dixit passa a abrigar recomendações de jogos clássicos e lançamentos recentes, mesclando memórias afetivas e descobertas inovadoras em um único espaço.
Nossa intenção é gerar um diálogo fluido entre gerações de jogadores, incentivando a compreensão de como mecânicas, narrativas e estética evoluíram ao longo do tempo. Já os textos de análise profunda, que exploram desde a arquitetura de sistemas de regras até a qualidade das trilhas sonoras e o potencial educativo das experiências lúdicas, serão disponibilizados de maneira exclusiva aos assinantes. Em breve, abriremos uma área de membros com níveis de apoio que darão acesso a benefícios como lives com convidados especiais, materiais de design de jogos e workshops online, permitindo uma imersão ainda maior no processo criativo.
Além disso, planejaremos Game Jams anuais, eventos de colaboração que desafiam desenvolvedores a conceber, prototipar e testar ideias em maratonas de período fixo. Essas maratonas funcionarão como laboratórios de inovação, conectando estudantes, profissionais e entusiastas em um ambiente de criação guiada por temas específicos — sempre alinhados com a proposta da Gamegesis de promover o entendimento sobre o papel social dos jogos. Paralelamente, vamos diversificar as fontes de financiamento, estabelecendo parcerias com editoras independentes, buscando patrocínios em conferências do setor e explorando modelos de crowdfunding para projetos especiais, fomentando uma economia colaborativa que valorize criadores emergentes.
Ampliaremos nosso escopo na produção de conteúdo. Publicaremos guias práticos de design e prototipagem de jogos, com orientações que variam desde a documentação inicial de ideias até exemplos de programação em engines usadas no mercado. Também dedicaremos espaço para análises musicais detalhadas, explorando as composições icônicas de clássicos como The Legend of Zelda até trilhas menos conhecidas, que oferecem experiências únicas. Oficinas presenciais e cursos curtos, tanto assiníncronos quanto ao vivo, complementarão nosso portfólio, permitindo que artistas, desenvolvedores e pesquisadores troquem conhecimentos e aprimorem competências essenciais.
Para manter essa ambiciosa agenda, contamos com o apoio fundamental de nossa comunidade. Convidamos você a se inscrever em nosso canal no YouTube, para assistir as já existentes e acompanhar as futuras lives e séries de vídeo que aprofundam temas centrais dos jogos. No Instagram (@gamegesis), compartilhamos curiosidades, dicas rápidas e momentos de inspiração. Também estamos presentes em plataformas descentralizadas como BlueSky, no perfil @gamegesis, e nos servidores Social e Gamedev do Mastodon, além de manter nossa conta no Twitter (X) sob o mesmo @gamegesis. Esses canais são pontos de encontro para debates, solicitações de feedback e networking entre interessados em pesquisa, design, crítica de jogos, e diversão.
Adicionalmente, reforçamos nosso compromisso com a democratização do acesso ao conhecimento por meio do podcast Gamegesis Diáspora. Nesse espaço, realizamos entrevistas com profissionais da indústria, acadêmicos e entusiastas que compartilham trajetórias, métodos de trabalho e visões sobre o impacto social dos jogos. A proposta é oferecer reflexões e insights práticos, capazes de inspirar criadores e fomentar discussões críticas sobre diversidade, representação e inovação.
Em apoio a todas essas iniciativas, disponibilizamos a chave Pix que facilita doações para custear servidores, licenças de serviços e remuneração de colaboradores. Basta apontar a câmera de seu celular para o QR Code oficial de doação para a empresa Hiperespaço Logicware Consultoria LTDA:
Mais do que retomar publicações, a Gamegesis assume a responsabilidade de ser uma referência sólida para aqueles que buscam compreender o universo dos jogos não apenas como entretenimento, mas como fenômeno cultural e agente de transformação social. Ao celebrarmos o Marco Legal dos Games e ao reforçarmos nosso compromisso contra as práticas predatórias de apostas, reafirmamos nossa crença no poder dos jogos como forma de expressão, aprendizagem colaborativa e construção de comunidades.
Que este novo capítulo seja marcado pela criatividade compartilhada, pelo rigor analítico e pela empatia — valores que sempre nortearam nossa trajetória. Junte‑se a nós nessa jornada e contribua para que a Gamegesis continue a crescer, inovar e inspirar. Afinal, mais do que entreter, acreditamos em jogos, que conectam pessoas, geram reflexões e transformam realidades.
Joguemos!
Dr. Rodrigo de Godoy Domingues, idealizador da Gamegesis, num momento de tietagem com o autor e game designer Eric Zimmerman. Foto: Divulgação/Montagem Pedro Zambarda/Drops
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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.